MULTIZONA

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sábado, 27 de março de 2010

RASTROS DA IMAGEM

 Guardados | LIANA TIMM | acrílico sobre tela e colagem | 1995

Há quem queira tornar perene o efêmero. Consegue?
Na foto meu vestido é outra pele. Emprestada pele de um outro. Achada e negada intermitentemente.
Perturba-me o fotografado. Prova da existência. Morta. Momento de percurso passado no próprio presente passado. Prova do outro lado. Da face. Prova dos nove. Amores. Da tragédia.  Da comédia interior.
Reconhecer na prata o verdadeiro é coisa sem comum.
Negar da expressão o sulco. Tranquiliza. Ameniza o olhar.
Há quem insista na exatidão do foco. Mas por quê? A exatidão é o nada agora fixado assim de sopetão.
Sem sentido, o trajeto obturável. Carente, a foto desse jeito. Carente e perfeita. Precária. Como o exame clínico de rotina.
Seu curso? Recurso do sentido eterno. Que de terno nem os tons. Passíveis de perder cromia.

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As coisas servem ao exercício mais que os corpos. Servem-se paradas aos gestos calculados. Os homens não. Há sempre um movimento reduzindo a chance estática. Com maçãs prepara-se o arranjo. Maçudas. Pesadas diante do vidro.
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Uma face mesmo bem intencionada faz vibrar o coração de sensação e terremoto.
Defendido, o olhar destrói o refratário do desejo. E quem deseja possuir alguma aparição corre atrás do captado. Cria o rastro e a imagem. Assim, não mais a máquina. Assim, a ação do olhar e sentimento. As fotos verdadeiras. Espectros tendenciosos. Aspectos fugidios. Se vistos frontalmente. Daquela exigência.
Há quem queira do efêmero o caminho. O arrastado ir adiante. É aí que a foto capta aquele rastro e vitoriosa quebra o seu limite traiçoeiro.
Entre um começo e outro existem mil versões primeiras.

LIANA TIMM
Prosa poética do Livro MISTURAS PRINCIPAIS de LIANA TIMM, TIMM&TIMM Editora, Porto Alegre, 1992. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA
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