MULTIZONA

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quinta-feira, 20 de maio de 2010

OS SONS E OS DIAS

Interior | LIANA TIMM | desenho |1986

Quando ainda a casa guarda os seus rangidos.
A luz imprime a nitidez mais funda. E sombras na manhã.
De quando em quando olhar na rua estica o espreguiçar dos livros.
O escrever uma porção de coisas sem sentido, pois sentido são frequentemente inexplicáveis.
Nessa zona da cidade ainda os pássaros.
Deslocando as águas de cascatas, verdes e marinhos.
Quem dera congelar o movimento pendular das folhas e ficar eternamente penetrando no poema preferido. Mas o dia desenrola o ímã par de nossos pés, e aos poucos os barulhos usuais das portas chocam-se ao tilintar do telefone.
Acordam-se utensílios na desvontade de mostrar o seu viés.
Na agenda o compromisso de buscar o aparelho do conserto, enviar relatório, falar com fulano, beltrano, concluir isso e aquilo. O cotidiano. Sem rotina.
O dia cumpre seu trajeto e corta alguns passeios prolongados.
O dia incita ao reexame. As gerações.
O calçamento indica outras direções. Bancos, praças e escadas.
Rolantes oferecem um passeio pelas portas giratórias, rodas gigantes,
acusadas pelo susto nas várias idades.
No paradoxo uma umidade frágil. Atraente.
Uma incongruência capaz de ser saboreada com desgaste.
O cardápio.
O aeroporto, o navio na propaganda do jormal mostram possibilidades.
O endereço já não é o mesmo.
Durante o dia a tessitura da parede cobre o áspero, o macio.
A hora de encontrar reforço para a fantansia não é agora.
Falta repassar anotações e calcular o rendimento de uma aplicação sem parâmetros.
Falta conviver com fatos e fotos.
Folheados casualmente no depósito da garagem.

Sem barulhos a casa guarda os seus segredos. 
E muda permanece até que os sons se encarreguem de ajustar o que a manhã consegue desviar:
o rítmo natural das idas.

Prosa poética do Livro MISTURAS PRINCIPAIS de LIANA TIMM, Timm&Timm Editora, Porto Alegre, 1992. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA