MULTIZONA

Olhem sempre a MULTIZONA, minha revista virtual, ao lado direito do blog. Boa leitura


segunda-feira, 31 de maio de 2010

IMPRESSÕES

As quatro intenções | LIANA TIMM | arte digital | 1999

Se nas impressões
nos baseamos
toda negação da “alma“
cai
a consagrar
o território sem fronteiras

Idéias correm
nos meandros
do corpo modelar
e pulsam
no transtorno
da indignação

Idéias fogem
das definições para além

Em verdade idéias
perdem a verdade
e a si mesmas

Toda sugestão navega na fábula
e coagula
a narrativa provisória

Toda ingestão
relativiza a gênese
presentifica o duplo
invoca o parasita

No misterioso corpo
os obstáculos
da imunidade
os infernos

higiênica equação
sem milagres

do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997.  

domingo, 30 de maio de 2010

A DIMENSÃO DA PALAVRA

desenho | LIANA TIMM | 1986

Ah! a dimensão da palavra
Na dimensão da palavra
tudo
Na dimensão da palavra
as paixões

Os porquês da palavra?

No visual camuflo a trama
contorno o incontornável

Na palavra sou viajante nômade
deserto oásis filho serva dona
mistério a descoberto

Me exijo na palavra
quero da palavra
a nacionalidade da língua
o intraduzível
a aventura íntima testemunhada

Insisto
num fazer o poema
com o sangue das eras
com as cores dos sentidos
com a delicada geeração dos sentidos

Insisto solitária
a desvendar a vaguidade do poema

O poema é sábio
repousa na folha
e aguenta a espera
aguenta mais que o corpo
a animação da palavra

o poema não é por si só

não

o poema é só
o poema é paixão
magia
doação

O poema paira absoluto
brota absoluto
nas fibras da pele

Quando lido
o poema é rito
de palavra em palavra
Quando dito
o poema é pacto
do ser
com outro ser

do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997. 

sábado, 29 de maio de 2010

GESTO LIMITE

Maça II | LIANA TIMM | arte digital | 1999

compulsivo querer
se assim não fosse
não seria querer
não seria poema

poemas nascem
dos acertos e mazelas da vida
que de nova
nada

velho pensar o sonho
de soltar o gesto
como se o gesto fosse a chave

e é
é um tudo momentâneo
visão de pico e montanha
grito puxado das víceras

alagada gastura

mutações

do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

RECARGA

Construção | LIANA TIMM | serigrafia | 1994

quero aprender xadrez
neste papel de embrulho

os incidentes
não me porão
em xeque mate

LIANA TIMM
Poesia do Livro ESTADOS EMPÍRICOS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1989. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quarta-feira, 26 de maio de 2010

IDADE MÉDIA

Olhar estrangeiro | LIANA TIMM | arte digital | 2007

Hoje estou facilmente seduzível. As paredes do Clouster agem sobre mim. Mas as circunstâncias não são as mesmas. Eu aqui, fora do alcance da tua mão, envio os e-mails mais verdadeiros. Quero que saibas deste adensamento, areia movediça, primitivismo controlado. Acho que por aí abriremos caminho neste matagal infestado de histórias. A edificação é falsa, transladada. Exibe arte romântica. Desculpe: r o m â n i c a. Romã, românica. Ah! Que obsessão.

LIANA TIMM 
Prosa poética do Livro OLHAR ESTRANGEIRO: NEW YORK de LIANA TIMM, LENIRA FLECK e VÂNIA FALCÃO, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2007. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sábado, 22 de maio de 2010

OBLIQUO

 Beleza exigente | LIANA TIMM | arte digital | 2007
fugaz espanto da experiência
por isso registro o fora
no dentro transformado

me vejo objetiva no olhar
num raro momento de realidade sem mistura

o casco do meu navio na água se embebeda
resiste às ondas de mim e não volta
se abre ao sol de novos dias
às sensações e aos sentidos

não sou esta nem aquela
sou nenhuma

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quinta-feira, 20 de maio de 2010

OS SONS E OS DIAS

Interior | LIANA TIMM | desenho |1986

Quando ainda a casa guarda os seus rangidos.
A luz imprime a nitidez mais funda. E sombras na manhã.
De quando em quando olhar na rua estica o espreguiçar dos livros.
O escrever uma porção de coisas sem sentido, pois sentido são frequentemente inexplicáveis.
Nessa zona da cidade ainda os pássaros.
Deslocando as águas de cascatas, verdes e marinhos.
Quem dera congelar o movimento pendular das folhas e ficar eternamente penetrando no poema preferido. Mas o dia desenrola o ímã par de nossos pés, e aos poucos os barulhos usuais das portas chocam-se ao tilintar do telefone.
Acordam-se utensílios na desvontade de mostrar o seu viés.
Na agenda o compromisso de buscar o aparelho do conserto, enviar relatório, falar com fulano, beltrano, concluir isso e aquilo. O cotidiano. Sem rotina.
O dia cumpre seu trajeto e corta alguns passeios prolongados.
O dia incita ao reexame. As gerações.
O calçamento indica outras direções. Bancos, praças e escadas.
Rolantes oferecem um passeio pelas portas giratórias, rodas gigantes,
acusadas pelo susto nas várias idades.
No paradoxo uma umidade frágil. Atraente.
Uma incongruência capaz de ser saboreada com desgaste.
O cardápio.
O aeroporto, o navio na propaganda do jormal mostram possibilidades.
O endereço já não é o mesmo.
Durante o dia a tessitura da parede cobre o áspero, o macio.
A hora de encontrar reforço para a fantansia não é agora.
Falta repassar anotações e calcular o rendimento de uma aplicação sem parâmetros.
Falta conviver com fatos e fotos.
Folheados casualmente no depósito da garagem.

Sem barulhos a casa guarda os seus segredos. 
E muda permanece até que os sons se encarreguem de ajustar o que a manhã consegue desviar:
o rítmo natural das idas.

Prosa poética do Livro MISTURAS PRINCIPAIS de LIANA TIMM, Timm&Timm Editora, Porto Alegre, 1992. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

segunda-feira, 17 de maio de 2010

SUGESTÃO

 Acasos | LIANA TIMM | arte digital |1999

                                          para Cecília Meireles

Sede assim
alguma coisa simétrica
A surpresa do simétrico é a igualdade
dispensa perguntas
O simétrico é
e nós somos no físico
o cálculo reconhecível dos iguais
Portanto
sede assim
alguma coisa simétrica
É um equívo
não querer ser
como a maioria dos homens

Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

domingo, 16 de maio de 2010

UM CERTO PERFUME


Por trás de tudo | LIANA TIMM | arte digital | 1999

Difícil
visitar o espetáculo
onde tudo se moraliza
na camuflagem da cor vulgar
Ao adicionar o branco
a seriedade se sustenta
na cirúrgica tonalidade

Por isso a preferência por matizes

Ao resguardar o quarto do encarnado
congelam-se milagres
e a cor oficial das meninas
suspende batalhas
no meio do caminho

De barulho e silêncio chega o dia
Compremos o passaporte do arco-íris

Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sábado, 15 de maio de 2010

PASSEIO AÉREO

 Recortes | LIANA TIMM | arte digital | 1999

Gravito em torno da cristaleira
acumulando testemunhas
contemplando a unidade
no culto da permanência

Esta dignidade entranhada
no arranjo dos pertences
não é real
tem a dimensão da infância
e dimensão nenhuma
Tem a imortalidade do mito
e a nostalgia do retrato
É a dignidade cultivada
na teatralidade do rito
hoje
opaco e sem viço
a esfumaçar
os limites do confinamento

Nem proprietários
nem usuários
colecionamos ligações viscerais
com os barulhos materiais
da incoerência

LIANA TIMM
Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sexta-feira, 14 de maio de 2010

INSENSATEZ

 Da surpresa | LIANA TIMM | arte digital | 1999

a dor do mundo?
herança dada não avisada
sempre à tona
água parada decantada
deserto

agitada pelo vento
escolho rio passante
margem
viajante

canoa virada

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quinta-feira, 13 de maio de 2010

OUTRA NATUREZA

 Beleza exigente | LIANA TIMM | arte digital | 2007

inconsistente presença
penso-me tocada pela aragem da janela
movediça tenho a mente sedenta
ressonante

num restrito espaço
nem grito
inerte pressinto
a lingua morta

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quarta-feira, 12 de maio de 2010

VAZIO

 Olhar estrangeiro: New York | LIANA TIMM | arte digital | 2007

escrevo habituada na melancolia
as primeiras faltas
atropelam o inconcebível

na cama
alerta percorro
no barulho dos carros
o inventário da vida

LIANA TIMM 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

CONSTELAÇÃO

 O mundo cabe aqui | LIANA TIMM | arte digital | 2004

soltar o pensamento
no lago visto da janela
astronomia atrevida
investiga até os fundos
do abandono

no meu encalço
estrelas e guias


LIANA TIMM 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

CONQUISTA

 Crônica de um rio | LIANA TIMM | desenho | 1987

há noites e extermínios
no meio da madrugada
qualquer pingo d’água
me põe exausta

nas noites dos meus dias
já fui tudo
amada em meio aos lençóis da cama
acariciada dentro e fora
mexida por pouco
esvaziada

no meu agora
distraio negligente
a interrogação da hora
andando sobre águas rasas
deito na lama do rio
moldando novas formas
simplificada

LIANA TIMM 2010

domingo, 9 de maio de 2010

VIAGEM

O mundo cabe aqui | LIANA TIMM | arte digital | 2004


passeia por mim
faz um amor bem feito
que o efeito fica

o vinho
pela boca entra
teu amor
entra por mim
de boca em boca


LIANA TIMM 2010

sábado, 8 de maio de 2010

VOADOURO

Angulações do olhar | LIANA TIMM | impressão à laser + assemblage | 1994



alcança a rede do ânimo!
um som deve pousar
na penumbra cósmica do corpo
um dom vai suportar
no ruído abafado
o desejo

voar por sobre a noite
ver aérea toda tessitura
boiar por entre
ramos e pernas
sentir no dentro
o peso elétrico da hora

passar nos vãos
como fumaça delineio
superfície
tela sem meio

flanar fora
gozar vertigens
levitação
carruagem

LIANA TIMM 2010


sexta-feira, 7 de maio de 2010

REFLEXO

 Amenas inferências | LIANA TIMM | serigrafia | 1984

escrevo no afã
de reter o desamparo
solitária busca
sedução

o rio em que escrevo
me espelha como um retrato
no liso plano do papel

sou atrasada
não interpreto mancha borra fluído
todo sentido corre
oprimido nas veias

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quinta-feira, 6 de maio de 2010

DESCOBERTA

 Reflexos | LIANA TIMM | arte digital | 1999

cansei
do encadeamento de palavras
da lógica do dizer
perfeita solução linguística

quero inventar
um outro jeito mais aflito
de pintar a dor fria da cor

LIANA TIMM 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O SOTÃO INESQUECÍVEL

As quatro intenções | LIANA TIMM | arte digital | 1999

Labirintos percorro
sem a chance
de reconhecer caminhos
Sei incompatível
a vocação reflexiva
com o afã de ser em vida
Sei insaciável
a inquietação represada
e os excessos

Prisioneira de micróbios
busco adormecer
a ânsia de sete-vidas
Debate-se em patética questão
o que no postal parecia mera referência
Debato-me neste pacato estar não sei onde
aliciada por mim mesma
a permanecer na anarquia

LIANA TIMM
Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

segunda-feira, 3 de maio de 2010

UM E OUTRO

  Eternas paixões | LIANA TIMM | arte digital | 2000
Inteiros
pra desprecisar do outro
pela insuficiência
Capazes
a qualquer hora
de uma loucura
Juntos
Livres
que o amor não é circo

LIANA TIMM
Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sábado, 1 de maio de 2010

MISTÉRIO

Desvios | LIANA TIMM | arte digital | 1999
a fumaça
edito
dela surge o estranho
ossatura hostil
sombreando o dizer não dito

perto e distante
o escuro esclarece
à contraluz

um biombo entre facas
entrevê a faca
como se a de fora fosse

muda deixo reverberar
o corpo antes e dentro


LIANA TIMM 2010