MULTIZONA

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

MESCLAS BRASILEIRAS

Papéis que valem ouro | LIANA TIMM | nanquim, lápis de cor e colagem | 1988

É na barreira e no tabu a cauda "mortis" dos encontros. Encontrar sem busca valoriza o acaso. Na flor da pele a fruição estética, crítica, documental, opinativa desse nacionalismo populista decadente.
Ao separar pedras e grãos somos mais aptos dia após dia. Quebrado o preconceito mil valores pululam dos esconderijos. Agora à luz de uma capacidade táctil, sonora, plástica e interpretável.
Ufanistas distorcem símbolos. E avulsos calam pois país colonizado é corda bamba entre província e moda.
Dentro da história o que nos torna dignos indígnos. Mas o peso da indignidade deve poupar quem acorrentado viu o poder e não sucumbiu à armadilha.
Uns vasculham os primórdios, o inadmissível. Lúcidos de que a história é a história, outra, é a ação dos homens na história. Essa sim criticável, posicionável. Opinável.
Da história, uma visão golpeada em várias fases e repensada, sem moldes, interesses. Livre e capaz para olhar, ousar, criar.
Ampliar. Derrubar a vergonha dos atos em nome da bandeira que uns se ocuparam afastando os outros de seu desenho. Ultrapassada a preguiça, o "patriotismo ornamental", iremos conferir o dado. Raciocinar. Verificar.
Raizificar. Re-voltar ao pau-brasil. Revisitá-lo sem o sentimentalismo retórico. Reassimilar a importação. Re-pintá-la em consideração a Oswald. Em consideração a nós.
Ser brasileiro. Sei-o. Seio farto doce mata virgem nunca deflorada por inteiro. Essa é a razão. Nunca a coisa por inteiro.
Criar outra versão definitiva. E provisória.

Virtudes?
Habitam sim junto aos homens livres e escravos da miséria, ignorância, degradação. Habitam com senhores de escravos do primeiro Pedro, seguindo aí por meados que o ventre livre até hoje não cumpriu. E segue mais de um Pedro, votado em pequenos grupos como hoje se faz por conchavos.
Imperam aqui a "grande natureza" e sentimentos. O que excita e excede o roteiro é a selvageria, a   saturação do discurso. O exacerbado enaltecimento das espécies. As típicas soluções de enxertos que misturam os reinos.
Missões nunca são cumpridas. Há ironia, desconfiança. Muito que bem usar de quando em vez o molho. Essa mediação faz respirar os engajados e já salvou apaixonados na tensão do ato. Mas muitos são viciados. Curvam-se homens sobre os ingredientes e os diluem. Não de todo. Há farelos. Homenagens e castigos.
O Lança chamas pega quem de perto evita. A imunidade não se perpetua mais.
Íntimos pontos de vistas não permitem a devoção acrítica, a libertação pelas vias indiretas.
Íntimos! Não permitam que se morra sem desfrutar amores. Não permitam as dedicações exóticas, aceitáveis aos oito anos mas que agora, francamente, não devem voltam mais.

LIANA TIMM
Poesia do Livro MISTURAS PRINCIPAIS de LIANA TIMM, TIMM&TIMM Editora, Porto Alegre, 1992. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

2 comentários:

  1. Liana, gostei do teu blog. Os poemas, as crônicas, as imagens sempre interessantes.
    Um grande abraço.

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  2. Não é desesperança, jamais niilismo.
    É apenas descrença.
    E de momento. Sem o que circundante empolgue. Nos empolgamos com a vida que nos anima.
    Sem ver a vida adiante, vendo o que pra trás deixou de estar, fica-se de um modo que só saberá ser o que virá.

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