MULTIZONA

Olhem sempre a MULTIZONA, minha revista virtual, ao lado direito do blog. Boa leitura


sexta-feira, 30 de abril de 2010

MEMÓRIA COLATERAL

LIANA TIMM | desenho |1988

Me prometo o desgaste físico
o desgaste dos desígnios
– Não suporto este nervo exposto

Sem condições
me ofereço
ao esforço ontológico
– Quero sonhar com perdidos

Argumento a execução do trajeto
não necessariamente linear
não necessariamente objetal
Um trajeto não acostumado
não regenerado e tudo junto

Proponho a fadiga no exercício verídico
a catarse da grafia
inclusão
diversas grafias

Proponho a experiência
quimicamente examinada
exaustivamente desmascarada
– Ensaios de destruição

Cogito o triturar de oferendas
o tangenciar nas fendas
de impossibilidades

Que meu corpo nunca perca
seu poder atento
de atingir o inominado
mesmo que do inominado surjam
lembranças que
esquecemos de esquecer
mesmo que do inominado ressurja
esse amor inventado
extraviado e sem país

LIANA TIMM
do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

STILL LIFE

(Re)velações do Olhar | Todos feiticeiros II | LIANA TIMM | arte digital | 2006

maçãs no prato exalam simploriedade
antecedentes se mostram logo de saída
a languidez do verde se aproveita
na pintura das paredes

janelas abertas
recebem o aroma frutal das peras

no ar
o rosado maduro de texturas
busca na prata dos pratos
o foco do ambiente

mãos ausentes
avós tias
jogam tessituras

uma moldura dourada
vigia a toalha sobre a mesa
e o arranjo envernizado das frutas

tudo vem de um lugar
posto na sala de jantar
como um troféu

– este quadro ?
ganhei de presente

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

terça-feira, 27 de abril de 2010

FUMAÇA

Papéis que valem ouro | LIANA TIMM | técnica mista | 1988

nas sombras
nenhum aviso de contramão
nenhuma premonição
nem barulhos

guilhotinas
regam em sangue morno
as gardênias

de quando em quando
dedos ausentes
complicam o tato
o autorretrato
e o que se espera
à sombra de uma mão

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

segunda-feira, 26 de abril de 2010

NATUREZA

Beleza exigente II | LIANA TIMM | arte digital | 2007

O meu navio ao zarpar do porto
se transforma noutra embarcação
Enquanto eu vou
há quem conduza barcos

necessários

Não podem todos
desprezar faróis
fingir que a flama
é mais uma estrela
e armar constelações

Estar nos ares como as gaivotas
requer da natureza permissão
Os homens
dizem
são da terra

por alguma razão

LIANA TIMM
do Livro FARÓIS DA SOLIDÃO, Porto Alegre, 1988.

sábado, 24 de abril de 2010

INSOLITUDE

 LIANA TMM | arte digital | 2004
Difícil
pensar como ninguém
Co-habitar na novidade
não da coisa
da disposição do possível
passível de ser outro
e outro e sempre
Conquistados
tragamos no vício do saber
histórias recontadas
De início basta
após
o mesmo gás aponta
à multidão de coisas
e quer o trânsito
a veracidade
meras novidades
As mãos a boca
as intenções
exigem explorar o sangue
não o roteiro
– difícil de nomear amoroso
Querem a audácia
dos frutos irreversivelmente maduros
empenhados
numa busca de estrondos
sem condescendências
Tudo que for menos
realmente não basta
não sacia
não traz diferença
Nesta época da vida
ocupações sem proveito
empobrecem ainda mais
os dias que clamam
por esta diferença
Me confronto
com premências

descabidas?

LIANA TIMM
do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sexta-feira, 23 de abril de 2010

SCRIPT FORA DA PÁGINA

Sequência | LIANA TIMM | arte digital | 2002
deixa a tua mão errante
queimar o meu desejo
onde ele arde e espera
- isto é apenas o prefácio

pousa teus lábios na minha boca
de entrelinhas
e aguarda
- nada ferve de repente
tudo começa
na temperatura ambiente

sente o dilatar silencioso da torrente
na escritura da epopéia
- meu corpo verso a verso
entra nas transversais da tua língua

explora
por entre as letras
a frutal artimanha da trama
e te arroja
nos potes da sede

LIANA TIMM 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

MESCLAS BRASILEIRAS

Papéis que valem ouro | LIANA TIMM | nanquim, lápis de cor e colagem | 1988

É na barreira e no tabu a cauda "mortis" dos encontros. Encontrar sem busca valoriza o acaso. Na flor da pele a fruição estética, crítica, documental, opinativa desse nacionalismo populista decadente.
Ao separar pedras e grãos somos mais aptos dia após dia. Quebrado o preconceito mil valores pululam dos esconderijos. Agora à luz de uma capacidade táctil, sonora, plástica e interpretável.
Ufanistas distorcem símbolos. E avulsos calam pois país colonizado é corda bamba entre província e moda.
Dentro da história o que nos torna dignos indígnos. Mas o peso da indignidade deve poupar quem acorrentado viu o poder e não sucumbiu à armadilha.
Uns vasculham os primórdios, o inadmissível. Lúcidos de que a história é a história, outra, é a ação dos homens na história. Essa sim criticável, posicionável. Opinável.
Da história, uma visão golpeada em várias fases e repensada, sem moldes, interesses. Livre e capaz para olhar, ousar, criar.
Ampliar. Derrubar a vergonha dos atos em nome da bandeira que uns se ocuparam afastando os outros de seu desenho. Ultrapassada a preguiça, o "patriotismo ornamental", iremos conferir o dado. Raciocinar. Verificar.
Raizificar. Re-voltar ao pau-brasil. Revisitá-lo sem o sentimentalismo retórico. Reassimilar a importação. Re-pintá-la em consideração a Oswald. Em consideração a nós.
Ser brasileiro. Sei-o. Seio farto doce mata virgem nunca deflorada por inteiro. Essa é a razão. Nunca a coisa por inteiro.
Criar outra versão definitiva. E provisória.

Virtudes?
Habitam sim junto aos homens livres e escravos da miséria, ignorância, degradação. Habitam com senhores de escravos do primeiro Pedro, seguindo aí por meados que o ventre livre até hoje não cumpriu. E segue mais de um Pedro, votado em pequenos grupos como hoje se faz por conchavos.
Imperam aqui a "grande natureza" e sentimentos. O que excita e excede o roteiro é a selvageria, a   saturação do discurso. O exacerbado enaltecimento das espécies. As típicas soluções de enxertos que misturam os reinos.
Missões nunca são cumpridas. Há ironia, desconfiança. Muito que bem usar de quando em vez o molho. Essa mediação faz respirar os engajados e já salvou apaixonados na tensão do ato. Mas muitos são viciados. Curvam-se homens sobre os ingredientes e os diluem. Não de todo. Há farelos. Homenagens e castigos.
O Lança chamas pega quem de perto evita. A imunidade não se perpetua mais.
Íntimos pontos de vistas não permitem a devoção acrítica, a libertação pelas vias indiretas.
Íntimos! Não permitam que se morra sem desfrutar amores. Não permitam as dedicações exóticas, aceitáveis aos oito anos mas que agora, francamente, não devem voltam mais.

LIANA TIMM
Poesia do Livro MISTURAS PRINCIPAIS de LIANA TIMM, TIMM&TIMM Editora, Porto Alegre, 1992. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

terça-feira, 20 de abril de 2010

QUE PORTA BATE

 LIANA TIMM | arte digital | 2008
o ar que respiro
é daqui
sai do chão
das paredes movediças
tombadas pelo tempo
à margem das ausências
nenhuma porta bate

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

domingo, 18 de abril de 2010

A COR DO SOM

 
Paisagens do Interior • Piano • | LIANA TIMM | arte digital | 2009

as notas deste piano
evito
som inadequado
mito
dentes prontos
dentada ou sorriso
sustenidos

eclode vibra
mina pode
implode a resistência
pouco sobra de um mim
rosa choque
azul bebê
verde musgo
carmim

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sábado, 17 de abril de 2010

INVENTAÇÃO

Zonais | LIANA TIMM | arte digital | 1998


volto em lembranças outras
nado à volta
tudo é vulto
marca de ausência
sob o sol

o livro na esteira
a silhueta do corpo
desapontamentos
à beira

murmúrios de oceano raivoso
sereno selvagem rumoroso
mordem a maré cheia

areia lavada
desmemoriada
não é testemunho

nada

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sexta-feira, 16 de abril de 2010

RANGENTE

As dimensões da casa | LIANA TIMM | arte digital | 2004

Degraus te levam ao precipício do sobrado. Vencido o porão, o corredor não é mais fácil. Mulheres nas frestas e colchas encarnadas driblam a penumbra. E rangem promessass nos “petit-pois”. Vai longe o terraço de ladrilhos norte, de Maria ser a plataforma de um foguete arrematado da orgia. Enfim, que importa o nome. O Egito está na China e se passa a ferro os quinze anos. As pregas dos vestidos permanecem. O cabide assanha insetos e essas mãos, cheias de agulhas e dom de ter além, qualquer obsessão. Não importa o cheiro. Queremos é flagrar o homem e a mulher no corredor estreito. E recorrer. Para a certeza.

Último, é palavra dobrável.

LIANA TIMM
Poesia do Livro ESTADOS EMPÍRICOS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1989. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quinta-feira, 15 de abril de 2010

EXPECTATIVA

A vida é pop | LIANA TIMM | arte digital | 2007

o dia da viagem amanhece
malas modelam roupas macias
ajeitam nos cantos echarpes
e uma segunda pele

despreparada sempre
duvido da competência
dos sapatos e da idade
um frio se imiscui por entre as saias
distraindo a mente com cerzidos

na travessia oceanos revelam
espaços flutuantes
mapas modeláveis fontes
oscila vez que outra
a paisagem esperançada

novidades livres de memória
estão na ponte
no hotel

a fronteira da língua?
portas de coragem

somos a chegada do que foge
somos nós a terra estrangeira

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quarta-feira, 14 de abril de 2010

GATO

 Prazeres do olhar | LIANA TIMM | técnica mista | 1995

o amor é como um gato
comedido
seduz ronronando
armadilha bote
aconchego mito

por isso desperta
grito

LIANA TIMM 
Poema do Livro ÁGUA PASSANTE de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 2009. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

terça-feira, 13 de abril de 2010

A TUA FACE

David sem Ângelo | LIANA TIMM | serigrafia | 1982a luz da tarde
refaz e reflete
à beira de mim
o teu insondável
passageiro entre ruas
turista de calçadas
estala duplo
o sentido da janela

LIANA TIMM 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

MUITO ALÉM

 Amenas Inferências | LIANA TIMM | serigrafia | 1984
o óbvio me embriaga
ranço sem estilo gela
golpe e dúvida

tom desmaiado
de momento
desencaixa
os embaraços
de um gozo avesso

arredia ao tédio
avanço e paro no ocaso
todos os dias


LIANA TIMM 2010

sábado, 10 de abril de 2010

AMANHECE

 
Nascente | LIANA TIMM | arte digital | 2004
sonambulo no saguão
aberto ao destino
sem perguntas nomeio
o que vejo e invento
mascarada e atônita
meu rosto desaparece
e improvisa sem afobação
recados no êxtase das fissura


LIANA TIMM 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

VASO

Voadouro | LIANA TIMM | arte digital | 1999
suspeito da inspiração
cega quero o meu pouco
em acontecimento

perder a cabeça
sinto
surda entro
intempestiva
tempestade
de paixões corpo

há dentro

LIANA TIMM 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

TODO DIA AMANHECE

 A maciez do olhar| LIANA TIMM | arte digital | 2007
inicia e finda onde
o ofício da vida
inesperado nutriente
errante lida

temperatura de memória
em sumidouro
contorno tateante
purgante fissura
ronda

fabrica paralela
depósito de línguas
paraísos nudistas
desperdiçados

ancorada no poder inegociável
de pegadas sem arquivos
deságua na esperança vã
de amolecer
o que qualquer ponderação
não amolece

LIANA TIMM 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ROSA DOS VENTOS

 Díptico | LIANA TIMM | acrílico sobre tela | 1998
aponta para a esquina uma aventura
vagância asa delta suor
ímpeto de planar sobre
a tua língua
colchão voador incandescente
estravio de corrente
fuso horário descompassado

aérea orgia verde passeia
panorâmica entre as lembranças

umas afasto outras persigo
umas nego outras consigo

e por um triz
a sombra da alma
faz um amor bem feito
que o feito gozo
de uva se transforma em vinho

em mel morno
o fel da quina


LIANA TIMM 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

ALÉM

Beleza exigente | LIANA TIMM |  arte digital | 2007

sondar clandestino
do eco na parede
minha voz
golpeia o ar prévio
pousar de passarinho
o vento alastra fogo
sobre o bolo na mesa
vaso seco magnólia

declínio na cova dos meus hemisférios

rosas abismados
preenchem o contorno
esfumado estás
nem um menos a mais
ladainha seca e vã
afogada no limo crescente
da espera

LIANA TIMM 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

ROTEIROS INVISÍVEIS


entrelê
boca insensata
sorriso maldito
este sonho

parada no antes
deste chão duro
perdi meus olhos
num paladar de cobiça

embaixo da pele
uma escadamapa
nada escapa da epiderme

um homem se conhece respirando
uma mulher...

amando

LIANA TIMM 2010

A VIDA JÁ COMEÇA FINDA

Prazeres do olhar | LIANA TIMM | técnica mista | 1998

nasci meio velha
contestando os limites do berço
querendo de pronto
aterrisar no deserto
de um assombro

de pé com as mãos
em transitórias grades
balbucio o som de um raio
nas reticências do ambiente

de ponta cabeça
um riso maroto
se abre em alarido

toda chance perdura até a morte
toda errância é o entre parênteses
todo atalho encurta a vida
todo precipício reedita o ponto cego da vida


LIANA TIMM 2010

sábado, 3 de abril de 2010

ESTRANHAMENTO

 Fragmentos I | LIANA TIMM | arte digital | 1998

Juntos pelo colchão
pelas paredes
cumpro o combinado
Notícias crescem sem demora
nas frestas do desempenho
e o exercício
encontra no coro dos malditos
o que se processa rejeitado

Conduzo mãos
neste ardor de minutos esgarçados
e paciente espero a implosão
dos mais estranhos monumentos

Cai o Coliseu feito ruínas
e pelo Arco do Triunfo
vou gloriosa imperatriz
em pleno império decadente

Juntos pelo colchão
de mares nunca dantes navegados
norteio a vela a seu destino
freando a correnteza
com pedaços da memória
contra vários desnorteios.

LIANA TIMM
Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

sexta-feira, 2 de abril de 2010

ANGULAÇÕES DO OLHAR

Angulações do olhar | LIANA TIMM | arte digital | 1995

Sempre o olhar. A captar as sombras do indizível. A revelar insólita noção do que se evade. Sempre o olhar na traição do modo avesso de invadir o tudo. E na invasão a perda e o ganho. Pois se ganha mais quando se perde o conhecido. O olhar é mestre em desfazer o que se sabe. E o que se sabe é sempre pouco e muitas coisas acontecem numa outra dimensão reverso novidade, propriedade submersa em vícios movediços.
Ao olhar, um certo compromisso comportado de gravar estas figuras como cartas que se tiram da manga e se prestam a leituras rituais. Mas se a cabeça pende mais em certa hora ou se revolta a cogitar outras seteira, o arrepio instala a negação das referências e cauteloso busca no remédio um escapismo e a marcha-ré. Quem elegeu angulações do olhar vai estrangeiro chafurdar sem fé no aço e presencia pasmo a corrosão pouco crível. Quem elegeu a angulação compõe, sem se dar conta, o irreversível. A nuvem, ventania, ou a passagem para o des-saber, o des-dizer...

Passagem... ao viver.

LIANA TIMM
Prosa poética do Livro TRILOGIA DO INDIZÍVEL de LIANA TIMM, TERRITÓRIO DAS ARTES Editora, Porto Alegre, 1997. Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA

quinta-feira, 1 de abril de 2010

MISTÉRIO

David sem Ângelo | LIANA TIMM | serigrafia | 1982

a fumaça
edito
dela surge o estranho
ossatura hostil
sombreando o dizer não dito

perto e distante
o escuro esclarece
à contraluz

um biombo posto
entre facas
entrevê a faca
como se a de fora fosse

muda deixo reverberar
o corpo a dentro

LIANA TIMM

FOTOGRAFIA

Retrato de Cecília | LIANA TIMM | serigrafia | 1980

Dela o que havia nela
e ela mais que bela
parecia perfeita
Na voz a cor de iates
os olhos cheios de mormaço
a boca repleta de deriva
e o cabelo
um mar de armadilhas

Nela o que não era dela
e ela compassada
parecia definida
No gesto a suficiência do mato
na testa rugas do ar

Ela era tudo que não se via nela
e na aparência dela
nada sob a pele
comparecia

LIANA TIMM
Poesia do Livro AMENAS INFERÊNCIAS de LIANA TIMM, TDA Editora, Porto Alegre, 1986. 
Onde encontrar: LIVRARIA CULTURA, BAMBOLETRAS, PALAVRARIA